sábado, 6 de outubro de 2007

Pirataria na Internet e morte do CD.

Pirataria na rede

Nos últimos anos, a tecnologia da informação tem afetado drasticamente a maneira de se vender música. A facilidade com que a Internet permite a troca de arquivos digitais entre seus usuários elevou a pirataria a níveis estratosféricos. Em poucos minutos, é possível baixar o CD ou DVD do artista preferido, sem ter que desembolsar um centavo sequer! No Orkut - o mais famoso site de relacionamento do mundo - há inúmeras comunidades com esse fim, tais como "Trocando MP3" (com mais de 30.000 usuários) ou "Discografias"(que possui inacreditáveis 430.000 membros). Nelas, os usuários podem fazer pedidos de músicas raras ou lançamentos de seus artistas favoritos e, em poucos dias, são prontamente atendidos: recebem os devidos links dos sites para baixarem as canções solicitadas. Esses sites funcionam como uma espécie de HD virtual compartilhado, onde os internautas podem fazer upload e download de arquivos diversos, livremente. Tais comunidades consistem num verdadeiro sonho para os colecionadores de música digital. E não há como banir esse tipo de comportamento na Internet, até porque (pelo menos no Brasil) não existe uma legislação completa e eficaz para coibir os abusos da pirataria na rede. No entanto, alguns países já são mais severos no tocante a essa questão: no início do ano, em Montauban (França), uma vovó de 66 anos foi multada em quase 500 euros por danos e prejuízos porque baixou mais de três mil músicas na Internet.
Surge então o seguinte questionamento: é certo que um erro não se justifica com outro, mas até que ponto é tão grave baixar músicas pela Internet num país como o Brasil, no qual a política econômica é totalmente desvirtuada e os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) encontram-se na mais pura sarjeta ética e moral? A pirataria é apenas mais um sintoma do sistema econômico mal administrado de um país em que até imunidade parlamentar é sinônimo de passagem livre para roubalheira descarada! Pirataria é roubo, sim! Ela prejudica um sem-número de artistas e desemprega outros milhares envolvidos no processo de criação, produção, distribuição e venda dos produtos. Porém, é bastante incoerente que se pratiquem os preços exorbitantes dos artigos originais: alguns lançamentos em CD e DVD chegam a custar, respectivamente, absurdos 10% e 15% do salário mínimo atual, em média. A carga tributária altíssima sobre os produtos não pode nem deve ser utilizada como única justificativa para os valores abusivos!
Nessa nova conjuntura, a fim de manter a sobrevivência no mercado, os artistas e gravadoras têm começado a repensar a forma de comercialização de seus produtos, pois a tendência é de sumir o produto físico e permanecer o intangível. Alguns artistas já inovaram a sua sistemática de venda. O exemplo mais recente é o do Radiohead, uma das mais influentes bandas de rock do mundo, que disponibilizará, a partir do dia 10 de outubro, o seu novo álbum "In Rainbows" no formato mp3 em seu site (http://www.radiohead.com/). O mais curioso é que o preço ficará a cargo do fã, que pode escolher não pagar, se preferir. Especialistas dizem que o grupo pode vir a ganhar com essa escolha, pois já possui uma sólida base de mercado.

No Brasil, já existem sites de comercialização de música digital, como o UOL Megastore e o i-música, que oferecem ao usuário a opção de baixar, por exemplo, as músicas de trabalho de um álbum lançamento ao preço de R$ 1,80 cada faixa, em média. Dessa forma, o consumidor que não se interessa em comprar o disco inteiro adquire sua música favorita e ainda valoriza e prestigia o artista. O grupo de forró universitário Falamansa, por exemplo, já disponibilizou em mp3 (ao preço de R$ 1,69 cada download) as músicas de trabalho de seu mais novo álbum, Segue a vida, cuja versão em CD ainda está sem data prevista. As três faixas disponibilizadas - Segue a vida, Miou e Amor amor - são recordistas de downloads no site da Deckdisc, gravadora da banda. Experiências como essa comprovam que é possível ao artista divulgar o seu trabalho musical sem necessariamente ter que lançar um CD. Além disso, o novo formato pode incentivar mais ainda a criatividade dos compositores na disputa de mercado, pois evita que o consumidor tenha que levar um CD inteiro somente por causa de uma única boa faixa. Com isso, espera-se uma maior qualidade das canções lançadas, no intuito de atrair os consumidores, que só irão comprar as faixas que realmente lhes interessem!

Breve histórico do CD:

Há pouco mais de 25 anos, a Philips (em parceria com a Sony) lançava no mercado o compact disc digital audio, invenção tecnológica que viria a revolucionar de forma definitiva a produção e a distribuição de música. A leitura das músicas sem o contato físico proporcionava a incrível qualidade e total pureza do som. No entanto, os equipamentos para reprodução dos disquinhos eram caríssimos - os primeiros CD players lançados chegavam a custar certa de 2 mil dólares (o equivalente, hoje, a cerca de R$ 4,15 mil). Acreditava-se que os aficcionados de música clássica teriam mais dinheiro para adquirir CDs do que os consumidores de cultura pop.

O primeiro CD lançado foi o célebre "The Visitors", do Abba, famoso por ser também o último da bem-sucedida carreira do grupo sueco. Os dois casais que formavam o quarteto estavam se separando, e a crise podia ser constatada nas letras das músicas. Entretanto, o formato só veio ter um maior alcance popular com o título "Brothers in arms", da banda Dire Straits, em 1985. Era a primeira vez que um CD vendia mais de um milhão de unidades. Somente em 1988 é que as vendas de CDs superaram as de LPs. Em 1992, o álbum "Erotica", de Madonna, foi o primeiro CD a imitar entre as músicas o som do chiado do vinil, e no encarte havia uma observação explicando que "todas as imperfeições eram propositais". No Brasil, os primeiros discos digitais chegaram em 1985, mas só tiveram seu boom no início dos anos 90, e a fabricação dos antigos LPs só encerrou no Brasil em 1996.

O consumidor e sua relação com os CDs:

Eu, Freddy Simões, sempre fui um exímio colecionador de CDs. Lembro-me de que o meu primeiro CD comprado foi uma coletânea de Lulu Santos chamada Acervo. Era um disco que eu ouvia constantemente. Continha canções como Tudo bem, A cura e Condição . Entretanto, lembro-me de que num aniversário meu, em 1995, meu pai me deu R$ 60,00 e eu, muito feliz da vida, torrei o dinheiro todo numa loja de CDs - adquiri os fantásticos álbuns V (cinco), da Legião Urbana; Sobre todas as coisas, do Cidade Negra e um CD cuja banda eu nem conhecia, mas comprei por causa da capa diferente, esverdeada, que mostrava uma figura esdrúxula, assustadora e com um sorriso irreverente - o álbum era Calango, do Skank, que fez enorme sucesso com os hits Jackie Tequila, Esmola, O beijo e a reza e Pacato cidadão. Foi o disco que deu amplitude e popularidade à banda mineira. Eu também adorava uma coletânea de Djavan, chamada Pétala, que ganhei de presente de minha irmã, Linda Simões. Hoje possuo as discografias de Roberto Carlos, Djavan, Jorge Vercilo, Maria Rita, Marisa Monte, Legião Urbana, Beatles, Caetano Veloso, Fagner, Ivete Sangalo, Michael Jackson, e mais uma infinidade de cantores e bandas de inúmeros estilos, de A a Z.


Toda inovação tecnológica (se for para a melhoria da qualidade de vida e bem-estar das pessoas) é bastante louvável. A criação de players de Mp3 é fantástica, implica em comodidade, praticidade, conforto e ecomomia para os consumidores de música, mas não traz o contato táctil com o produto - nada substitui o prazer de comprar aquele álbum desejado, com uma capa que faz história, encarte com letras e informações complementares. O disco cria um vínculo mais forte e verdadeiro entre o consumidor e seu artista predileto. Eis alguns relatos de alguns consumidores e sua relação com o CD:

"O meu primeiro CD player me foi dado de presente de aniversário, em 1992, pelo meu ex-marido. Sempre fui uma pessoa bastante musical, e fiquei fascinada com a qualidade de som ouvida naqueles disquinhos reluzentes. Eu adorava o novo formato! Lembro-me de que, dentre os primeiros CDs que adquiri, figuravam Coisa de Acender, de Djavan, e o delicioso disco da Banda Beijo que possuía uma bandeira ilustrando a capa e tinha o cantor Netinho como líder", afirma a administradora Dagmar Simões. A secretária Cátia Veloso relata seu primeiro contato com o CD: "Eu já tinha constatado a ótima qualidade do som, pois cheguei a ouvir alguns CDs em casas de amigos. Fiquei encantada, mas não tinha dinheiro para comprar o aparelho, porque o preço ainda era muito alto. O ano era 1994. No entanto, eu resolvi me antecipar e comprei, mesmo sem ter onde reproduzir, dois CDs maravilhosos que eu queria muito: The Stonewall Celebration Concert, de Renato Russo, meu ídolo na época, e Valsa Brasileira, de Zizi Possi, minha cantora favorita. Após a compra, eu os guardei com muito carinho em minha estante, e isso me serviu de incentivo para que eu adquiririsse um CD player o mais rápido possível". Já a arquiteta Pricylla Girão afirma: "Nunca fui uma assídua compradora de CDs, mas me recordo de que o primeiro título que comprei foi uma coletânea da banda Simply Red, a qual eu não me cansava de ouvir. Fiquei muito feliz com aquisição e tenho ótimas recordações dessa época". Danilo Gouveia, estudante, 25 anos, lembra-se de que seu primeiro CD adquirido foi Cor de Rosa e Carvão, de Marisa Monte: "Eu considero até hoje esse álbum como o trabalho mais bonito da cantora. Fiquei vidrado na voz suave dela cantando aqueles sambas, bossas e baladas pop. E o encarte ainda vinha com músicas cifradas! Foi um verdadeiro tesouro musical. Até hoje esse CD me causa emoções e arrepios".

O CD, como produto de mercado, está em processo de morte lenta e, em poucos anos, deve ceder o lugar a outros tipos de mídia, como o DVD áudio, que possui uma incrível qualidade e permite ouvir o som com maior riqueza de detalhes não percebidos no CD. No Brasil, ainda existem pouquíssimos títulos no formato DVD áudio, como a edição remasterizada do célebre álbum "Elis e Tom", de 1975, cujas minúcias da gravação original agora podem ser ouvidas com total clareza e perfeição. Entretanto, como produto de capricho e reverência, o CD ainda perdurará por muitos anos, pois amor de fã é incondicional e eterno, e os consumidores conservarão os discos de seus artistas favoritos, até porque - mesmo que o aparelho tocador de CD deixe de ser fabricado - o formato ainda poderá ser reproduzido nos DVD players.

6 comentários:

Anônimo disse...

Também acho que nada substitui o prazer de juntar dinheiro para comprar o disco tão esperado do artista predileto. Infelizmente, música está virando arquivo! Que saudade dos tempos em que presentear alguém com um disco era o máximo!!

Cátia Veloso disse...

A idéia de dar ou receber um cd como presente sempre foi a minha marca e acrdito que isso durará para todo o sempre. Admito que tenho saudades dos nosso velhos discos de vinil, era sempre uma emoção diferente desembrulhar, admirar a capa, o encarte, cheirar! Quem por aqui nunca cheirou aquele disco novo e não se deixou embriagar por aquele cheirinho tão gostoso? Eu, particularmente, adorava! Lembro de quando comprava cada cd do meu grupo preferido Legião Urbana, nossa!Era um orgulho e alegria indescritíveis.
Acho que só mesmo quem é aficcionado por música entende o que tento descrever aqui.
Eu amo ganhar cd de presente! Sempre digo que quem me conhece de verdade jamais terá dúvidas ao tentar me presentear.Cd SEMPRE será meu presente favorito. A única queixa dos possíveis presenteadores é que eu só gosto de música boa e, essas custam caro. Foi mal gente mas... Fazer o quê? Se fosse o contrário,talvez nem pudesse ser chamado música, não é mesmo?
Esse ano, em meu aniversário tive a certeza do quanto a música está em mim; ganhei diversos presentes mas 2 foram inesquecíveis: O cd duplo de Ana Carolina e o novo trabalho de Isabella Taviani. Deu trabalho pra tirá-los do som, viu?
É imensa a minha alegria de estara qui deixando a minha impressão em um assunto que faz parte da minha vida e está em mim como o sangue em meu corpo.
Freddy, obrigada por ter mencionado a minha experiência. Amo você; sabe disso, né?
Beijão

Anônimo disse...

Sei que um dia ficarei para trás, e acredito sinceramente que esse dia já chegou, mas não posso negar que prefiro CD's a qualquer outro tipo de tecnologia...chegar em casa e vê-los lá, por ordem ou não... reler encartes, cantar as músicas junto...até mesmo comprar com certo sacrifício e ganhá-los de presente então, é ótimo, ou maneira não substitui...é como baixar livros pela net, é legal, mas tira-se o prazer de ter o livro, lêlo mais outra vez e saber que cada manchinha ou qualquer, outra rasura, envelhecimento, faz parte de sua vida...de sua história...
bjnhos...

Valdeline Barros. disse...

Eu não quero desapegar do CD, ainda hoje... Até aceito, e reconheço que terei que desapegar logo, logo, mas parece perder uma parte do gosto da música, sabe?
Seria isto conversa de velho? Acho que sou antiga (risos)!
Mas, sem dúvida, os recursos tecnológicos de hoje em dia, representados principalmente pelo Mp3, são importantes ferramentas de divulgação para quem faz música, principalmente a música independente, e facilitam o acesso à música de várias formas, pelas mais diversas pessoas e classes sociais, incluem, disponibilizam...
Tecnologia tem "ajudado" a muitos. E "prejudicado" a outros...
"Pirataria é roubo, sim! Ela prejudica um sem-número de artistas e desemprega outros milhares envolvidos no processo de criação, produção, distribuição e venda dos produtos".
Porém, a música distribuída ou vendida na internet, que não o CD propriamente dito, anima alguns.
"Experiências como essa comprovam que é possível ao artista divulgar o seu trabalho musical sem necessariamente ter que lançar um CD", como você mencionou.
Assunto um tanto complexo esse, divide opiniões ainda.

Obs.: Por exemplo, O Teatro Mágico, que adoro, é um grupo que se divulgou, e dão graças a isso, através da internet...
Enfim, ainda bem que existe essa oportunidade para a música independente também agora!

Elilson disse...

Realmente, o CD está falecendo...
Mas, e as pessoas que não dispõem de necessárias aquisições monetárias e gostam de boa música, como vão comprar cd´s?! Essa é uma indagação feita publicamente por grandes vendedores nacionais, como a explendida Marisa Monte, Ivete Sangalo e Zeca Pagodinho.
Por outro lado,há alguns artistas que enquanto não vendem tantos milhões como antes, acabam tendo um reconhecimento por seu amadurecimento e caem no gosto da crítica, como é o caso da norte-americana Christina Aguilera com seu último cd duplo "Back to Basics".
Afinal, é difícil e perigoso se arriscar na dura indústria fonográfica.
Sem mais delongas, amei a matéria!

Elilson disse...

Agora, me lembrei o quanto me senti mal ao baixar a nova versão do clássico "Mother" do Jonh Lennon, na brilhante voz da C.Aguilera. Pois bem, essa música faz parte da coletânea que reuniu vários artistas da atualidade em regravações das canções de Lennon "Instant Karma For Dafur", em apoio ao país africando Dafur...foi aí que a consciência pesou!