quarta-feira, 16 de abril de 2008

Sangue, mistério e arte.

A seguir, duas histórias escabrosas de crimes. A primeira é fictícia e a segunda é real. Ambas guardam bastante similaridade entre si:

Sweeney Tood - O barbeiro demoníaco da Rua Fleet

Histórias fantásticas com temática sombria sempre foram o forte do diretor de cinema, Tim Burton, que lançou recentemente o musical "Sweeney Todd: o barbeiro demoníaco da Rua Fleet", estrelado por Johnny Depp, ator quase onipresente nos filmes do diretor, e Helena Bohan-Carter, talentosa atriz, esposa de Burton.

A trama de Sweeney Todd - que muitos dizem ser verdadeira - originou-se do romance "The string of pearls" e conta a saga de Benjamin Barker,
nascido e crescido na Londres do século XVIII, empestada por doenças, poluição, pobreza e corrupção. Foi aprendiz de barbeiro, teve noções de anatomia e de como assaltar com mão leve os bolsos dos clientes. Após sair da cadeia, abriu uma loja na Rua Fleet e se casou com uma linda jovem, que atraiu a cobiça do juiz da cidade (vivido no filme por Alan Rickman). O casal cai numa cilada da Justiça e é separado. Benjamin Barker (Johnny Depp) fica numa prisão na Austrália durante 15 anos. A esposa dele morre envenenada, dizem, e sua filha passa a ser criada e protegida pelo juiz, que a mantém em cárcere privado. Após cumprir pena, o barbeiro volta à Europa, com o nome de Sweeney Todd, em busca de vingança. Nasce, dessa forma, a lenda.

Johnny Depp e Helena Bohan Carter no filme
Sweeney Todd - O barbeiro demoníaco da Rua Fleet


De volta à barbearia na Rua Fleet, Todd encontra a proprietária do imóvel, Srta. Lovett (Helena Bohan-Carter), que guardou todas as suas navalhas e um amor indelével e incondicional por ele. Os dois se unem em uma trama de vingança e decidem também reerguer a falida loja de tortas de Lovett. As vítimas da cadeira do barbeiro tinham as gargantas cortadas e seus corpos jogados no moedor que ficava no porão, para depois virarem recheio das tortinhas. No total, foram mais de 160 mortes. A história de Todd virou inspiração para vários espetáculos teatrais, filmes e televisão. Em 1973, um dramaturgo britânico apresentou a trama de vingança de Todd e do juiz de Londres no palco. É esta versão que inspirou o aclamado compositor Stephen Sondheim a montar o espetáculo definitivo, cujas canções encantaram Tim Burton.

Os crimes da Rua do Arvoredo

No Brasil também houve um caso escabroso e real que guarda algumas semelhanças com a história de Sweeney Todd: em 18 de abril de 1864, a polícia de Porto Alegre deparou-se com uma cena de crime horripilante: no porão da casa de José Ramos e Catharina Palse, na Rua dos Arvoredos, estavam enterrados os pedaços de um corpo humano, já em avançado estado de decomposição. O cadáver havia sido retalhado, com a cabeça e membros do tronco, e este, por sua vez, repartido em vários pedaços. A vítima havia sido identificada: era o alemão Carlos Claussner, dono de um açougue na Rua da Ponte. Ao examinar um poço desativado na casa, a polícia encontrou vários outros corpos esquartejados. A motivação dos crimes era evidente : Ramos e Palse mataram para se apossar dos bens de suas vítimas. Os crimes causaram repugnância, especialmente depois que uma série de boatos davam conta de que o casal assassino fazia lingüiça com a carne das vítimas e vendia o produto num movimentado açougue de Porto Alegre. Detalhe: as lingüiças tinham boa aceitação entre os consumidores. A polêmica sobre a veracidade da lingüiça de carne humana até hoje divide os gaúchos, embora esse fato jamais tenha sido mencionado nos autos dos processos existentes. A difusão da lenda justifica-se na assertiva de que a cidade de Porto Alegre era uma verdadeira Babel de imigrantes de diferentes nacionalidades e culturas, ou seja, um ambiente propício à criação de lendas e histórias fantásticas.

Rua do Arvoredo na época dos crimes

A Rede Globo exibiu em 27 de abril de 2006 o programa Linha Direta Justiça, contando a história desse que se tornou o caso policial mais famoso do Rio Grande Sul, e que ficou conhecido como Os Crimes da Rua do Arvoredo. O episódio televisivo foi estrelado por Carmo Dalla Vecchia, na pele do assassino José Ramos, e Natália Laje, como sua mulher Catharina, cúmplice nos crimes.

Perfil dos assassinos:

José Ramos (autor dos crimes)

Ramos era ex-soldado da Polícia, gostava de música, freqüentava o recém-inaugurado Theatro São Pedro e andava bem vestido. Enfim, era, como se dizia na época, um boa-vida. Aproximava-se de suas vítimas com desfaçatez. Apresentava-se como amigo e sempre oferecia alguma vantagem, para atrair a vítima à morte.

Depois de matá-la, apropriava-se de seus bens. Era extremamente cruel, pois matava as vítimas com golpes de machado na cabeça, as degolava e esquartejava, antes de sepultar seus corpos. Era mistura de serial killer, cínico, descarado e mentiroso.

Carmo Dalla Vecchia
interpretando o assassino José Ramos



Catharina Palse (cúmplice)

A húngara amásia e cúmplice de José Ramos era uma mulher de grande beleza. Atraía as vítimas para a tal casa-açougue, para que fossem mortas por José Ramos, esquartejadas e, com a carne, eram fabricadas as lingüiças, que eram vendidas no comércio da cidade (nota-se aí a semelhança dos assassinos José Ramos e Catharina com os respectivos personagens de Johhny Depp e Helena Bohan Carter no filme Sweeney Todd).

Natália Laje no papel de Catharina Palse,
cúmplice de José Ramos nos crimes


Arquivo nacional

O processo dos crimes da Rua do Arvoredo encontra-se hoje guardado no Arquivo Nacional (RJ), apesar da crença generalizada no sumiço dos papéis. Segundo o historiador Décio Freitas, autor do livro O maior crime da Terra (Editora Sulina, 1998), o processos estão incompletos, são todos manuscritos e de difícil compreensão, o que torna a investigação do texto uma tarefa árdua. Portanto, jamais se saberá se a história é completamente verdadeira, pois somente as folhas faltantes nos autos é que poderiam dar algum indício sobre a veracidade das tais lingüiças ou não.


Fontes pesquisadas:

Livros:

- COIMBRA, David. Canibais, paixão e morte na Rua do Arvoredo. C.L&PM Pocket, 2005;

- FREITAS, Décio. O maior crime da Terra - O açougue humano da Rua do Arvoredo (1863-1864). Editora Sulina, RS, 1996.

Internet:

- Site da Rede Globo/Linha Direta:

http://redeglobo.globo.com/Linhadireta/0,26665,GIJ0-5257-226046,00.html (acessado pela última vez em 15/04/2008).

- Wikipédia:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Crimes_da_Rua_do_Arvoredo (acessado pela última vez em 15/04/2008).

9 comentários:

Valdeline Barros. disse...

Êita! Eu vi Sweeney Tood no cinema! Adorei. Adoro Jhonny Depp!! ;)
Esse crime da Rua do Arvoredo eu não conhecia, nem vi esse Linha Direta, nunca vejo o Linha Direta.
Deveras semelhantes, pelo que você narrou. Incrível isso. Seria cômico se não fosse trágico...

Anônimo disse...

Não sei nada sobre esse "Caso dos Arvoredos", td q sei é q o filme de Johnny Depp/Tim Burton é simplesmente primoroso, consegue conectar mto bem teatro, cinema, horror, sangue e música...

Difícil deveras... Fazer algo assim em dias atuais, nos quais td é tão insólito e sem gosto d quero mais... Olha até rimou?! (foi sem querer, viu?)

Alexandre Brendim disse...

A que ponto chega a ganância humana... e não duvido que tantos outros casos como esse existem enm ficamos sabendo.

Unknown disse...

Belíssimo trabalho de pesquisa. Não conhecia esta história. Lendo ou não vou toma mais cuidado ao comprar linguiça.
Abraços

Daniela Figueiredo disse...

Não vi o filme do Johnny Depp, mas me fez pensar se o autor não se inspirou na história do Crime do Arvoredo. Pensava, até ler este post, ser certo as carnes das vítimas virarem linguiça (e dizem, em Porto Alegre, que era uma das linguiças mais gostosas!). Tenho o livro do Coimbra, recomendo para quem gosta de suspense, sem falar que foi baseado em fatos reais.
Beijos.

Unknown disse...

Eu moro na Rua do Arvoredo em Porto Alegre, a rua mudou de nome, agora se chama Coronel Fernando Machado, mas o prédio que eu moro ainda leva o nome da rua... Condomínio Rua do Arvoredo...

Anônimo disse...

Essa sombria passagem da história de Porto Alegre, ainda não foi inteiramente comprovada, visto que como o historiador Decio Freitas disse o processo está incompleto, mesmo tendo partes guardadas no Rio de Janeiro. Ms livros como Cães da Provincia de Antonio Assis Brasil, nos dão varias informações desse episódio. Além de contar parte da vida de Qorpo Santo que foi contemporâneo dessa época

Zeca disse...

Sou fascinado sobre esse caso, tanto que tenho os livros do referido assunto.

O que me chamou a atenção depois que assisti o filme de Burtom, foram as semelhanças com esse caso, pelo menos notei que não fui o primeiro a reparar nessas coincidencias...

Mas pelo o que eu procurei saber a respeito da versão inglesa é que o romance data do mesmo periodo que ocorreram os casos de Ramos e Catarina. Sem falar que no livro do Décio Freitas o caso foi repercutido pela Europa e até comentádo pelo evolucionista Charles Darwing...

Acho que é há uma fonte de inspiração para o livro do barbeiro da rua Fleet. Será?

Anônimo disse...

Essa história, a depeito da violência que anuncia é muito legal. Esse crime deve ter balançado a população daquela época, uma diversidade incrível de nacionalidades que era esse lugar. Recmendo o livro "Os cães da Província" de Luiz Antonio de Assis Brasil dá um belo nfoque nesse caso.
Luis Freitas